"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, nem dos sem carácter, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons!"
Martin Luther King, autor da frase acima, é uma figura histórica conhecida, um ativista político que lutou pelos direitos dos negros nos EUA. Foi preso, perseguido e teve sua casa destruída, mas não desistiu em momento algum de sua causa. Ele lutou pelo que é hoje no mundo, um direito fundamental, o direito à igualdade. No Brasil a luta por este direito aconteceu durante a ditadura, entre 1964 e 1985.
No período em que o país era comandado pelo exército, não aceitamos o que nos era dado e mesmo sem nenhuma garantia de dignidade humana, fomos às ruas protestar pelo que era justo. Finda a ditadura, com o movimento ‘’Diretas já!’’, parecia que o país finalmente tomara a forma de uma nação politizada. O impeachment de Collor, que poderia ter sido visto como uma confirmação desta tendência foi uma despedida dos cidadãos políticos brasileiros. As manifestações se encerraram e nos tornamos conformados com o que acontece no país. Qual foi a última manifestação que envolveu a todos, a última grande articulação política para gerar mudanças, fazer valer os nossos direitos? Nos tornamos cidadãos passivos, à espera de que o governo resolva suas falhas.
Ao ver a impunidade nos jornais, na TV, na internet, o que fazemos é dizer ‘’esse corrupto vai escapar’’. Algumas vezes nos indignamos com a leitura. Por que os crimes dos políticos se tornam tão comuns? Porque nós deixamos assim. Nós perdoamos.
Não vamos às ruas para protestos, até que sejamos atingidos diretamente pelas mazelas de nossos governantes. O lema, famoso no início da década, ‘’sou brasileiro e não desisto nunca’’ não parece se aplicar aqui. Entregamos os pontos e culpamos veladamente quem está no poder. Nos silenciamos perante os gritos dos corruptos, que preocupava Martin Luther King. Este é o silêncio do perdão. A comodidade frente a situação nos leva a pagar uma escola particular – é mais fácil que protestar por um ensino público de qualidade. É com este tipo de ação que não pedimos por justiça. Perdoamos o desvio de verbas pagando por um plano de saúde em vez de lutar pelo SUS. Aprendemos a perdoar a corrupção e pior – a conviver com ela, acreditando que somos verdadeiros guerreiros que nunca desistem. Não podemos apontar para juízes e Ministros culpando-os pela impunidade, eles são os maiores representantes do povo ao perdoarem os crimes dos nossos representantes políticos por seus crimes.
‘’Em toda instituição que não sopra o ar da crítica pública, uma inocente corrupção brota e se espalha como um fungo’’ escreveu Nietzsche. No caso do Brasil esse fungo é cultivado por um perdão comodista e a justiça está lançada à sorte, nas mãos dos poucos que insistem em não se calar perante o grito dos corruptos.
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