domingo, 28 de março de 2010

O caso Nardoni: poderia não ter sido eles?

Nessa última semana a mídia falou, comentou, expôs, enfim, fez o que podia e não podia a respeito do caso do ano: o homicídio da criança Isabella Nardoni, supostamente cometido por seu pai, Alexandre Nardoni, e sua madrasta, Anna Carolina Jatobá.

A garotinha de apenas cinco anos teria sido esganada pela madrasta e jogada pela janela do apartamento por seu pai.

Apesar de haver várias evidências, os advogados, pedindo a absolvição, afirmaram: não há prova concreta de que foram eles. A promotoria, por outro lado, foi taxativa: foram eles.


Após cinco dias de julgamento, da oitiva de várias testemunhas, dos réus e da mãe da vítima, o juri chegou a um veredicto: foram eles. Por volta de 00:25 da madrugada de sábado (27/03/2010), o juiz Maurício Fossen leu a sentença, que os julgou culpados pelo crime de homicídio triplamente qualificado, condenando o pai a 31 anos, 2 meses e 10 dias de prisão em regime fechado. A madrasta foi condenada a 26 anos e oito meses de reclusão. Além disso, foram também condenados, cada um, a mais oito meses de detenção, pelo crime de fraude processual.

Mas, poderia não ter sido eles? Haveria uma dúvida razoável? Ainda que houvesse, juridicamente, a possibilidade de absolvição, será que o povo, o maior julgador de todos, seria capaz de perdoá-los?

Aqui vai um exemplo: na década de 80, nos EUA, uma mãe denunciou que seu filho teria sido vítima de abuso sexual por Ray Buckey., professor em uma escola primária. O caso, que ficou conhecido como “The McMartin trial”, se desenrolou de tal maneira que centenas de acusações ocorreram por parte de várias mães, acabando por envolver toda a família do acusado, responsável pela administração da escola em que as crianças “abusadas” estudavam. Tudo indicava que eram culpados e a mídia colaborou (e muito) para que a população os hostilizasse ainda mais. Ao final, após aproximadamente sete anos de julgamento, foram declarados inocentes de todas as acusações. Apesar de formalmente inocentes, o povo já os havia condenado, e a retaliação continuou: apesar de absolvidos, "foram extra-judicialmente" condenados.

O povo não perdoa, é fato, mas esquece. Só não o faz quando a mídia não deixa, como ocorreu nos dois casos abordados. A comoção popular foi imensa, o repúdio aos dito criminosos, também. Antes mesmo do julgamento, a mídia já decretava o veredicto: eles assassinaram a menina. E, agora, após o pronunciamento do judiciário, afirma-se: foi feita justiça.

Não digo que os Nardoni não cometeram o crime, deixo à Justiça o dever de se pronunciar definitivamente (pois a defesa recorreu da sentença) a respeito. O caso é que qualquer que seja o veredicto, eles já foram condenados pela população, e dessa condenação não cabe recurso.

2 comentários:

  1. Barbara, exelente texto!Um ótimo tema para se discutir. Concordo plenamente com voce!!A midia atrapalha ou ajuda a fazer justiça?
    Alguns amigos meus acham que eu defendo os Nardonis.Mas nao, defendo a imparcialidade da midia, pois, como poderosa formadora de opniao,pode "condenar" inocentes".E menos alienaçao da sociedade, mais consciencia critica, porque como mostra o exemplo do artigo acima, o senso comum pode errar feio!

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  2. Rodrigo, que bom que você também pensa assim! Digo mais: o senso comum geralmente erra feio! Acho que quando a sociedade se depara com crimes brutais em demasia, fica sedenta por "justiça" e acaba por pedir a condenação da primeira pessoa que se apresentar como passível de ter cometido o suposto crime. Perde-se, como você falou, a consciência crítica, e nesse caminho confunde-se a justiça com a mera vingança.

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